Não dá para ficar indiferente afinal são só crianças, são só bebés, o que sabem eles, o que percebem eles sequer da vida para tão cedo se verem privados dela, verem os seus pais, os seus irmãos que são o seu mundo desaparecerem.
Ontem comentei com o Martim o que se passava em Ghouta, pois não consegui calar em mim a revolta e a vergonha de em pleno século XXI continuarmos a cometer os mesmos erros e como seres humanos "evoluídos" que somos, não conseguirmos evitar ou pôr fim a isto.
A reação dele foi de incompreensão, não percebeu sequer como é que isso era possível. Talvez por o cenário estar tão longe dos seus piores pesadelos ou da sua realidade.
Pediu-me para lhe mostrar como é que eles estavam e o que tinha acontecido. Percebi que tinha necessidade de provas para o cenário de filme que lhe contei, e mostrei-lhe fotos da destruição.
Os seus 8 anos não lhe permitiram entender, aquilo que nós também não entendemos: "mas isso aconteceu agora ou há muitos anos?", "mas eles estão perdidos dos pais?", "e não podem ir à escola?", "onde é que eles brincam?" e por fim "mãe, Portugal é um país tranquilo, não é?".
Tentei tranquilizá-lo, mas ao mesmo tempo coloquei-me lá, ou melhor coloquei o cenário aqui, bem junto de nós, e só a ideia de não ter comida para lhe dar, de não o conseguir proteger (porque o meu corpo não seria suficiente para isso) ou de o poder perder a qualquer minuto, só essa ideia me despedaçou.
O que é que podemos fazer? O que é que cada um de nós pode fazer para mudar a situação? "Não podemos dizer-lhes para pararem com isso?" pergunta o Martim. Parece ser simples e ao mesmo tempo tão difícil.
E de repente já ninguém fala dos Sírios, já ninguém fala de Ghouta, já não existem imagens a rodar nas redes sociais nem notícias no Jornal da Noite, afinal está tão longe da vista, afinal Portugal é tão tranquilo, afinal não é nada connosco....
Falta a este mundo atitude e a todos nós um pouco mais de compaixão. Os Sírios não são seres extraterrestres que não sabemos bem se existem. Estão aqui mesmo ao lado, são como nós apenas com crenças diferentes e hábitos distintos. Têm sonhos, têm projetos, choram, riam, protegem os seus e têm medo, muito medo porque afinal os Sírios também amam os seus filhos....