Mum to Son

por Liliana Reis

sábado, 26 de maio de 2018

São Tomé, uma grande lição de vida!


Esta foi sem dúvida uma viagem daquelas para ficar para a vida inteira, tanto para mim, que felizmente tive a possibilidade de a proporcionar ao Martim, como para ele que descobriu uma infinidade de coisas novas e percebeu que o mundo é infinito na sua diversidade, que as pessoas nos tocam de diversas formas e que o amor tem o mesmo sabor em todo o lado!

A professora que o autorizou a faltar alguns dias, pediu-lhe em troca que registasse cada dia da sua viagem, como um diário de bordo. Eu achei uma ideia fantástica e por isso deixo-vos com a viagem contada pelo próprio.


Dia 21/4/2018
Sábado

Chegámos a São Tomé depois de 6h de avião, 2h de autocarro e 30 minutos de barco. Estamos no Ilhéu da Rolas, está muito calor cerca de 27º mas quando chegámos ao quarto estava tão fresquinho por causa do ar condicionado. Fomos à praia de imediato e a água é tão quentinha! Na praia há imensos animais, principalmente caranguejos brancos que correm muito (quanto mais pequenos mais correm), búzios, caramujos e falcões que apanham peixes mesmo dentro do mar. Estou desejoso para ver mais coisas amanhã.




Dia 22/4/2018
Domingo

Fomos caminhar com um guia pela ilha. O guia mostrou-nos plantas espetaculares que: cheiravam a perfume, lavavam os tachos, uma planta que fechava quando lhe tocávamos e outra que fazia tatuagens. Isto tudo foi dar ao marco da linha do equador. O que é o equador? O equador é a linha que divide a terra em duas partes iguais: hemisfério norte e hemisfério sul.
Da parte da tarde fui visitar a aldeia, distribui as roupas que trouxe e fui jogar à bola com alguns meninos da aldeia: o Etiane, o Virgílio, o Jaime e o Caniço. Depois fomos à praia todos juntos.
As casas deles são muito pobres, feitas de madeira e outras de chapa de metal e vivem misturados com os porcos, as galinhas e os cães. Não têm nada do que nós temos mas vivem muito felizes.
E só para dizer que são mais fortes que nós, correm muito rápido descalços e a mim doía-me muito os pés.








Dia 23/4/2018
Segunda-feira

Hoje foi um dia para descansar, estivemos na piscina e na praia e vimos mais uns animais diferentes.
Fomos visitar a escola da aldeia e levámos muitas canetas para distribuir, eles eram envergonhados mas gostaram das canetas. Só têm uma sala de aula para todos os anos e usam uniforme, estavam na pausa do lanche mas foram muito simpáticos.
O professor contou que os meninos só têm aulas de manhã ou de tarde era muito bom que em Portugal fosse igual. 
No final do dia veio uma tempestade e choveu bastante.
Amanhã vamos para São Tomé (Centro) e hoje despedimo-nos do Ilhéu das Rolas.





Dia 24/4/2018
Terça-feira

Hoje fomos de barco até São Tomé, mas antes de sairmos do Ilhéu ainda vimos um ninho de tartarugas da espécie "sada" que tinha nascido de madrugada. Um senhor explicou-nos que nos anos de mais calor nascem mais fêmeas e nos anos de menos calor (menos de 29º) nascem mais machos. O que é pena é que só apenas 1 em 1000 tartaruguinhas sobreviverá até à idade adulta. 
Quando chegámos a São Tomé fomos para o Hotel Pestana e aproveitámos a piscina o resto do dia!




  
Dia 25/4/2018
Quarta-feira

Hoje fomos conhecer o centro de São Tomé com um guia, o Adilson. Ele mostrou-nos coisas incríveis: cascatas no meio da selva, provámos a fruta do cacau, vimos a planta do café, fomos ao Jardim Botânico onde vimos muitas plantas diferentes por exemplo a planta de micócó que é para dar força às pessoas.
Também fomos a uma Roça de café. Uma Roça é uma quinta gigante onde se produz cacau ou café. Os donos das Roças há muitos anos atrás eram portugueses e os São Tomenses trabalhavam para eles. Um senhor que vive na Roça com 83 anos chamado Doutor Paulino explicou-nos como se fazia o cacau e o café e mostrou-nos a Roça toda.
Para terminar o dia fomos à fábrica de chocolate. Aprendi como fazer chocolate desde o fruta até ao pacote. Provámos chocolates, hum fiquei todo gordinho!
















Dia 26/4/2018
Quinta-feira

Mais um dia de visita ao Norte da Ilha de São Tomé. Aqui o norte é onde faz mais calor. Fomos à Lagoa Azul onde eu fiz snorkling.
Depois fomos a um sítio onde os portugueses chegaram quando atracaram em São Tomé, chama-se Pelourinho.
Fomos a mais duas Roças e depois para o Hotel descansar. Hoje foi um dia cansativo mas o que eu gostei mesmo foi de ensinar o jogo do galo aos meninos da Roça e aprender o jogo do pneu...ou tentar!







Dia 27/4/2018
Sexta-feira

Hoje foi dia de descanso e de despedida.
Depois do almoço fiquei mal disposto e vomitei, e não comi nada ao jantar. Vou descansar porque tenho de levantar-me às 2h da manhã para apanhar o avião.
Espero que corra tudo bem dentro do avião,
Adorei São Tomé, vi coisas incríveis que não há em Portugal nem mais lado nenhum!
Espero cá voltar!


Não preciso dizer o sorriso gigante que todos os dias este miúdo tinha!
Para quem ainda tem receio de levar as crianças para destinos como este, apenas uma mensagem, o que eles trazem de lá é tremendamente maior que uma diarreia ou uma profilaxia da malária.

#todoecadacentimoparaviajar
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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Digam ao Dark Frame que tem uma mãe à perna!

Estamos numa de youtubers por aqui. Há algum tempo, na verdade.
Sempre que pode, o Martim dá uma escapada ao youtube para ver o que há de novo nos seus canais favoritos. Confesso que não percebo certas coisas e volta que não volta lá lhe estou a dizer que já chega e a arranjar algo alternativo com que se entretenha.
O canal que mais gosta é o do Dark Frame, um miúdo (vinte e poucos) que faz experiências e fala de "factos da vida" como diz o Martim. Não é dos piores, aliás é talvez o único que até diz coisas interessantes de todos os canais que vê. À conta dele fiquei a saber que o papagaio pode decorar até 800 palavras, que 22 meses é o período de gestação de um elefante e que a baleia azul produz 90 kg de cocó por dia.

Mas este Domingo que passou, a coisa ficou feia, Dark Frame dava autógrafos na Fnac do Colombo, e aqui a mãe pródiga resolve ir comprar na véspera o livro "dos factos da vida" que o youtuber lançou, para ser só chegar, assinar o livro e tirar a tão desejada fotografia ao lado dele. Era o sonho do Martim.
Domingo de manhã, aquele dia que tenho para dormir mais um bocadinho, (porque ao Sábado pelo hábito das horas, o relógio biológico decide sempre despertar bem cedo), aí vamos nós a caminho do Colombo. Parecia tudo calmo, mas para gerir expectativas, fui logo dizendo para se preparar que possivelmente ia estar muita gente.
Uma fila enorme...quase que dava a volta ao Centro....e eu a ver a minha vida a andar para trás. O segurança diz "a fila está fechada, ele já não vai dar autógrafos a mais ninguém" e vejo a cara do Martim a transfigurar-se.
Não pudemos ficar na fila, mas ainda fomos vê-lo e tirámos uma foto ao longe. Achei que estava feito e viemos embora.
Mas rapidamente me apercebi que o silêncio do Martim era só uma forma de suster o choro. Assim que lhe perguntei "estás bem filho" desabou e soluçou copiosamente. "Aquilo era o meu sonho, ter uma foto com ele e o livro autografado, mas não te preocupes mãe, este é um drama meu.". 
Disse-lhe que só não gostava de o ver triste e que as coisas nem sempre corriam como queríamos, mas que iam haver outras oportunidades. "Nem estou a ser justo porque tu trouxeste-me até aqui e agora eu estou a chorar".
O verdadeiro drama, o horror. Nem quero imaginar este filho com um desgosto de amor. Mas tal como as futuras ex podem já ficar cientes de que a mãe está cá para as perseguir, este Sr. Dark Frame pode ter a certeza que me tem à perna. 
Que é isso de fazer as crianças infelizes?? As crianças que compram o seu livro? Não pode ser! 

Tínhamos um almoço com amigos que já são família, chorou até lá, mas assim que chegámos entrou no conforto do que é sentir-se em casa e apoiado. Brincou a tarde todo e quando voltámos perguntei-lhe se tinha gostado do dia, respondeu-me "sim, foi excelente!". 
Disse-lhe que a família e os amigos têm o poder de nos fazer esquecer as coisas menos boas que nos acontecem, e ele concordou "pois foi, até me esqueci do Dark Frame, mas foi uma pena não conseguir uma foto com ele".

O Dark Frame já serviu para bem mais do que somente umas palhaçadas na net para entreter, foi graças a ele que mais uma vez o meu filho percebeu que a vida tira, mas também dá, e muitas vezes valorizamos demais aquilo que não temos.

E se por acaso, por acaso este texto alguma vez chegar até si, Sr. Dark Frame (desculpe mas não sei o seu verdadeiro nome), marque lá se faz favor outra sessão com mais lugares (de preferência não muito longe de Lisboa) que nós desta vez vamos acampar à porta, e tem sorte em não sabermos onde vive, senão já sabe que estaríamos lá a pernoitar e a fazer-lhe uma espera, tipo "stalker"!
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sábado, 17 de março de 2018

Os Sírios também amam os seus filhos!


Não dá para ficar indiferente afinal são só crianças, são só bebés, o que sabem eles, o que percebem eles sequer da vida para tão cedo se verem privados dela, verem os seus pais, os seus irmãos que são o seu mundo desaparecerem.
Ontem comentei com o Martim o que se passava em Ghouta, pois não consegui calar em mim a revolta e a vergonha de em pleno século XXI continuarmos a cometer os mesmos erros e como seres humanos "evoluídos" que somos, não conseguirmos evitar ou pôr fim a isto.
A reação dele foi de incompreensão, não percebeu sequer como é que isso era possível. Talvez por o cenário estar tão longe dos seus piores pesadelos ou da sua realidade.
Pediu-me para lhe mostrar como é que eles estavam e o que tinha acontecido. Percebi que tinha necessidade de provas para o cenário de filme que lhe contei, e mostrei-lhe fotos da destruição.

Os seus 8 anos não lhe permitiram entender, aquilo que nós também não entendemos: "mas isso aconteceu agora ou há muitos anos?", "mas eles estão perdidos dos pais?", "e não podem ir à escola?", "onde é que eles brincam?" e por fim "mãe, Portugal é um país tranquilo, não é?".

Tentei tranquilizá-lo, mas ao mesmo tempo coloquei-me lá, ou melhor coloquei o cenário aqui, bem junto de nós, e só a ideia de não ter comida para lhe dar, de não o conseguir proteger (porque o meu corpo não seria suficiente para isso) ou de o poder perder a qualquer minuto, só essa ideia me despedaçou. 

O que é que podemos fazer? O que é que cada um de nós pode fazer para mudar a situação? "Não podemos dizer-lhes para pararem com isso?" pergunta o Martim. Parece ser simples e ao mesmo tempo tão difícil.

E de repente já ninguém fala dos Sírios, já ninguém fala de Ghouta, já não existem imagens a rodar nas redes sociais nem notícias no Jornal da Noite, afinal está tão longe da vista, afinal Portugal é tão tranquilo, afinal não é nada connosco....

Falta a este mundo atitude e a todos nós um pouco mais de compaixão. Os Sírios não são seres extraterrestres que não sabemos bem se existem. Estão aqui mesmo ao lado, são como nós apenas com crenças diferentes e hábitos distintos. Têm sonhos, têm projetos, choram, riam, protegem os seus e têm medo, muito medo porque afinal os Sírios também amam os seus filhos....
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segunda-feira, 5 de março de 2018

And the Oscar goes to ...Coco !


O Oscar "mais bem" atribuido da Academia este ano!

É de facto um filme maravilhoso que nos fala da família, da importância de manter viva a memória dos nossos entes queridos que já não estão perto de nós, do respeito pelos mais velhos e a necessidade de dar espaço à diferença e à individualidade de cada um. 
Tudo isto de uma forma tão alegre e tão viva quanto é a cultura mexicana, pela qual eu tenho um fascínio especial (a comida, a pronúncia, a música e as personalidades: Frida Kahalo, Cantinflas, David Alfaro Siqueiros,  Anthony Quinn que fazem parte do meu imaginário).

Vimos este filme há`pouco tempo. E no final chorámos "baba e ranho".
Uma das cenas finais é uma festa do "Dia de Muertos" que se comemora no méxico no dia 2 de Novembro. Nesta festa podemos ver os "vivos" acompanhados dos seu familiares "muertos", como se participassem da festa também.
Ao ver isto, achei que o Martim iria ficar impressionado, ou talvez até nem percebesse o que era aquilo. Enganei-me, a pergunta no meio do silêncio foi: "Mãe, achas que a tua mãe também está junto de nós como estes estão junto dos familiares?", respondi-lhe que tinha a certeza que sim e num repente ele abraçou-me, as lágrimas caiam-lhe e disse que não queria que eu morresse, que ficaria muito triste se ficasse sem mim. Não segurei as minhas lágrimas e tentei sossegá-lo, mas ficámos ali um bocadinho a sentir o nosso coração vivo, somente porque não queremos perder-nos.

Só por isto, para mim este filme já merecia um Oscar e fico muito contente que o tenham reconhecido publicamente, é sem dúvida um argumento que toca aos mais duros e que faz pensar os mais afastados dessas coisas da família!

Parabéns Coco !!
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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Como se responde a certas coisas???


As perguntas do Martim por vezes deixam-me sem resposta, outras vezes obrigam-me a pensar sobre as coisas, mas a maior parte das perguntas pedem apenas uma resposta honesta e verdadeira. 
São estas as que mais gosto de lhe dar pois mesmo que ele não perceba, sabe que não lhe estou a esconder nada.
Depressa aprendi que, a resposta tem acima de tudo que ser uma resposta curta e que exija pouco tempo de atenção da parte dele. Aqui ficam algumas delas:

1. Mãe e se tudo isto fosse um sonho? Nada do que estamos a viver fosse verdade?
R: (dei-lhe um beliscão) Acordaste? Se não acordaste é porque não era um sonho.

2. Às vezes penso como é que será estar aí dentro? Eu conheço-te por fora, mas como é que é estar aí dentro?
R: (mal sabe ele que às vezes não me aguento a mim própria) É tal e qual como estar aí dentro com a diferença de que tu és tu, e eu sou eu.

3. Mãe se tivesses um namorado como é que ele se chamaria?
R: Não faço ideia. (mas como já sei que não desistiria de uma resposta) Talvez Manuel Francisco, e depois chamava-o de "Oh Manel Chiiiicoooo" (com a mesma entoação da Rita Blanco na Gaiola Dourada).

4. Isto é tudo tão real, não achas mãe? Porque é que à nossa volta as coisas não são pixelizadas (nem sei se existe esta palavra)? 
R: Confesso que não sei, mas não gostava nada de ter cara de Minecraft.(olhou para mim com cara de "não percebo porque não").

5. Na sequência do sistema reprodutor que está a aprender na escola, e de como são feitos os bebés.... E tu mãe, gostas de sexo?
R: (depois de engolir em seco, comecei a fazer outra coisa e respondi) Gosto, toda a gente gosta. (e ficou por aí).
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sábado, 17 de fevereiro de 2018

Bilhetinhos de Amor


É um hábito que temos e antes que a idade lhe traga alguma vergonha de abrir o estojo e ter um recadinho da mãe, aproveito para ir manifestando o meu amor e lembrá-lo durante o dia que ele é a coisa mais importante do meu mundo.
Ele responde sempre com a letra mais feia que já vi
, mas com uma doçura de quem pensa do outro lado "ai que mãe tão piegas" e quando eu escrevo "porta-te bem, amo-te muito", responde "eu porto, eu também".

Troquei muitos bilhetes idênticos com a minha mãe e já mais tarde na faculdade (quando ainda não havia telemóvel) escrevíamos cartas uma à outra, no intervalo dos telefonemas da cabine da praceta.
Há dias encontrei uma dessas cartas e foi como se ela ainda estivesse aqui.

São pequenos miminhos e funcionam como lembretes de que embora não estando ao lado um do outro o amor perdura pelo tempo, pela distância, pelas dimensões...no matters what!
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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

"Nunca estás contente"

Hoje ouvi o primeiro "mãe, também nunca estás contente" depois de lhe dizer que podia ter feito um desenho mais completo, melhor pintado e com um título ou dedicatória.

Custou-me ouvir aquela frase, afinal talvez seja um pouco exigente no que toca ao primor e perfeição naquilo que se faz. E tenho de respeitar que nem todos somos assim.
Mas depois pensei que talvez ele precise de alguém assim na vida dele, não quer dizer que não fique satisfeita com aquilo que faz, mas sei que o potencial dele é gigante e por saber isso tenho obrigação de que não se contente em fazer pouco e de forma medíocre.
Então, depois do embate da resposta me ter feito dar quase um passo atrás (acho que até fechei os olhos de dor como se me tivessem pisado um pé e eu não pudesse dizer "ai"), respirei fundo e disse-lhe:

"Olha amor, a mãe fica sempre contente quando vê as coisas que consegues fazer, acho que és muito original e isso é muito bom, é bom ser diferente. Mas tens razão numa coisa, nunca vou estar contente quando perceber que não deste o teu melhor, que fizeste só para despachar. Não precisas de ser melhor que ninguém, só precisas de fazer o melhor que consigas".

Respondeu-me "Obrigada!" e deu-me um abraço.
Não sei se me agradeceu o elogio de ser original, se me agradeceu por eu querer o melhor dele, ou apenas por lhe ter dado uma resposta, mas senti-me um pouco mais leve, embora a frase "mãe, também nunca estás contente" continue a ecoar na minha cabeça. 
Acho que pela primeira vez pensei que isto é capaz de ter sido mais fácil quando ele era pequenino!

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