Estarão as escolas preparadas para lidar com as situações familiares do mundo de hoje?
Haverá compreensão do outro e o respeito pela liberdade da expressão de uma criança ou queremos moldar todos da mesma forma como carneirinhos no carreiro até ao pasto?
O Martim tinha um texto para construir sobre "o meu Natal", disse-me que já tinha feito tudo mas a professora obrigou a apagar porque não concordou com o que ele tinha escrito.
Achei que deveria estar cheio de erros ou então com construção frásica totalmente ao lado e perguntei-lhe, o que estava no texto.
A resposta surpreendeu-me: "Eu gostaria de passar o Natal com a minha mãe e abrir os meus presentes em casa".
Sem perceber o que é que a professora tinha de concordar ou não com isto, perguntei: "Mas então porque é que tiveste de apagar?"
"Porque a professora disse que no Natal estamos com a família toda, que não é um dia normal e que eu devia fazer tudo de novo".
Nem sabia bem o que dizer, nem como dizer, porque a minha vontade foi de o dizer diretamente à professora e não a ele:
Sra. Professora, com todo o respeito que lhe devo, os Natais não são todos iguais nem formatados aquilo que programamos na nossa cabeça. Nem todos têm famílias, nem todos têm ceias cheias de coisas boas, nem todos comemoram a noite ou o dia, nem todos têm um lar, nem todos abrem presentes!
E sim já passámos noites de Natal só os dois porque tenho a família longe e não quis privar o meu filho de passar o dia seguinte com o pai, os avós e os irmãos. E não tenha pena de nós porque possivelmente vivemos essa noite de uma forma mais próxima e profunda do que possa imaginar.
Voltámos a fazer o texto como ele quis e expliquei-lhe que se era assim que imaginava o seu Natal então deveria escrever e explicar à professora.
E ficou assim:
"Eu gostaria de passar o Natal com a minha mãe em casa e receber
um tablet e um jogo para a PS4.
Normalmente passo o dia de Natal com a família e brinco com os meus irmãos
e com os presentes novos.
Já sei que vamos jantar bacalhau na noite de Natal, mas o que eu queria mesmo
era jantar bolonhesa.
Estou ansioso que chegue o Natal!"
Para os educadores e sei que não são todos iguais: as crianças têm o direito a expressar-se e fazer ouvir as suas vontades principalmente quando estas dizem respeito à família. Se não estão abertos a escutá-los mas sim a imporem a vossa forma de ver o mundo pergunto-me como será que conseguem detetar situações problemáticas. Valia a pena pensar 2 vezes.